A invenção do avião
O avião é o meio de transporte que mais facilita nossa vida, pois após a internet e o telefone é o meio mais rápido de interagirmos com uma pessoa atualmente, viagem feitas em dias com carros são feitas em horas com os aviões, mas como é a história completa desse incrível meio de transporte, vamos ver:
A cena: Paris, a “Cidade-Luz”, capital da França,
exibindo suas aspirações e frutos de uma continuada e, ainda,
efervescente Revolução Industrial e Cultural. O ano: 1906, o dia: 23 de outubro, às 16h45min;
inúmeras pessoas, com os seus chapéus nas mãos, vibrando, acenando ao
alto, extasiadas pelo que presenciavam, enquanto Santos Dumont cruzava,
em vôo, o Campo de Bagatelle, com o seu Mais-Pesado-Que-o- Ar: o 14-Bis.
Este relato descreve, de forma sucinta, o motivo de comemorarmos em 23 de outubro, o Dia do Aviador. Porém, sua importância vai além de representar apenas a data magna da Aeronáutica – aqui entendida como a Ciência
da Navegação Aérea – e da Força Aérea Brasileira. Essa data é carregada
de inquestionável valor histórico; porém para desfilarmos seus motivos,
torna-se imprescindível falarmos do ilustre brasileiro Alberto Santos
Dumont.
Toda história teve início quando, aos 24 anos de idade,
o jovem engenheiro de formação e ascendência francesa, Dr. Henrique
Dumont conheceu a jovem Francisca de Paula Santos e, se casaram, a 6 de
setembro de 1856, na cidade de Ouro Preto-MG.
Em 1872, o Dr. Henrique Dumont foi contratado para trabalhar
na construção da Ferrovia Pedro II, posteriormente conhecida como
Estrada de Ferro Central do Brasil, que ligaria o Rio de Janeiro a Minas
Gerais, particularmente o trecho localizado na Serra da Mantiqueira.
Para não ficar longe da família, o Dr. Henrique trouxe sua esposa, os
cinco filhos, instalando-se em uma casa próxima às obras, na Fazenda
Cabangu, entre os Distritos de João Ayres e João Gomes; local onde
nasceu, a 20 de julho de 1873, data em que o Dr. Henrique completava seus 41 anos, o sexto, dos oito filhos do casal, batizado como Alberto Santos Dumont.
Concluída as obras em 1875, a família
Dumont mudou-se para a cidade de Valença-RJ e, posteriormente, em 1879,
para Ribeirão Preto-SP, onde se estabeleceu na Fazenda Arindeúva,
ocupando-se com plantio e beneficiamento de café, através da empresa Dumont Coffee Company.
Em 1891, Santos Dumont viajou com seus pais para Paris. Os dez últimos anos do século XX foram marcados por inúmeras evoluções tecnológicas, como o gramofone, a linotipia, a turbina a gás, o cinema e o cinerama.
O motor a gasolina, ou seja, de explosão, também conhecido como motor de combustão interna,
era a sensação do momento, fazia o maior sucesso e, devido a isto,
exposições da época mostravam-no em múltiplas versões e funcionando sob
os mais variados princípios. Ao visitar uma dessas exposições, o então
jovem Santos Dumont ficou fascinado, pois sempre se viu interessado em
entender aquele mecanismo.
A família Dumont voltou para o Brasil e, juntamente, Alberto,
mas não para ficar muito tempo, pois tinha em mente uma séria de idéias
e concluíra que Paris seria o local ideal para colocá-las em prática.
Seu pai, que além de engenheiro era fazendeiro e abastado
cafeicultor, fez todo o possível para facilitar o empreendimento do
filho. Além de emancipá-lo com apenas 18 anos, deu-lhe, antecipadamente,
sua herança, composta de ações e títulos de renda que lhe permitiram
viver folgadamente e financiar, sem ajuda de terceiros, todas as suas
experiências.
Em 1892, Santos Dumont voltou para
Paris, disposto a aprender tudo sobre Mecânica e, em especial, sobre
motores a explosão, objetivando colocar em prática um plano que vinha
articulando desde criança.
Embora não primasse pela originalidade, o projeto era arrojado:
consistia em criar um aparelho que permitisse ao homem voar, controlando
o seu próprio curso.
Podemos acrescentar que, a passagem do século XIX, até,
aproximadamente, os dez primeiros anos do século XX, marcou Paris com
uma idéia e vontade fixa de grande parte da população: voar! Várias
pessoas tentaram a proeza e tiveram um resultado final funesto, outras,
com melhor sorte, apenas não obtiveram os resultados esperados. Muitos
continuaram a tentar das mais diferentes maneiras.
Mas, até então, ninguém havia conseguido alçar vôo por seus próprios
meios, manter-se no ar e, depois, retornar ao solo num aparelho
dirigível, e era isso que Santos Dumont pretendia.
Na realidade, o projeto de Santos Dumont não era novo, pois já existiam balões.
Quando ainda menino, em Ribeirão Preto-SP, ele já ficava intrigado
com os Sanhaços e Tico-Ticos que pousavam em seu quintal e depois
ganhavam o ar, novamente, com a maior tranqüilidade, afinal – pensava
ele – “as aves são pesadas e, se elas conseguem voar, por que não o
homem?”.
EXPERIÊNCIAS INICIAIS
O primeiro balão construído por Santos Dumont não tinha motor,
dependia do vento para deslocarse, mas acrescentou muito, no que tange o
emprego de materiais, até então nunca utilizados. Ao vê-lo, houve
muitos parisienses duvidaram do bom senso de Santos Dumont. O balão
“Brasil”, como foi batizado, era diferente dos outros modelos
conhecidos, tinha o formato esférico e um invólucro com diâmetro
inferior a 5 metros, com capacidade para 113 m3 de gás; seu peso era de
15 kg e, a rede, que em outros balões chegava a pesar 50 kg, no “Brasil”
não passava de 1.800 gramas; a barquinha, que geralmente pesava mais de
30 kg em outros balões, agora limitava-se a 6 kg, e como não bastasse
toda essa economia de peso, até a âncora foi substituída por um arpão de
ferro.
Mesmo com todas as previsões pessimistas, por ocasião de seu primeiro
vôo, o menor aeróstato do mundo ganhou altura valentemente, provando
que Santos Dumont, embora estreante, sabia muito bem o que fazia em
matéria de construção aeronáutica. O sucesso do “Brasil” foi somente o
primeiro passo. A dirigibilidade dos balões era o que realmente
interessava a Santos Dumont; porém, para chegar a ela, teria que
utilizar balões com propulsão própria.
Santos Dumont aprofundou seus estudos, concentrando-se,
principalmente, em Mecânica e em motor de combustão interna, pelo qual
se viu impressionado à primeira vista, tornando-o objeto constante de
suas pesquisas, na busca de um motor ideal para propelir um veículo
aéreo, com as seguintes características: pouco peso, muita força e o uso
de combustível líquido, por ser mais fácil de ser transportado. O
objetivo foi alcançado em 1897, quando construiu um motor de dois
cilindros e o adaptou a um triciclo.
Depois de muitos estudos e planejamento, mandou construir um balão
que foi batizado como “Santos Dumont Nº 1”, o primeiro de uma série de
balões com a forma de “charutos voadores motorizados”. O número foi
colocado propositadamente, para diferenciá-lo dos outros que certamente
viriam, com inclusão de outras melhorias técnicas.
O novo balão foi criticado pelos especialistas da época. Segundo
comentários, a seda japonesa utilizada na confecção do invólucro não era
um material adequado para ser inflado com hidrogênio, um gás altamente
explosivo. Além disso, instalar um motor a gasolina debaixo de um balão
construído desta forma seria um verdadeiro suicídio, pois os gases
quentes do escapamento fatalmente incendiariam o invólucro, fazendo
explodir o hidrogênio.
Mais uma vez Santos Dumont estava certo. A 20 de setembro
de 1898, depois de uma tentativa frustrada, o brasileiro pioneiro da
aviação subiu aos céus e alcançou a altura de 400 metros, no comando do
peculiar veículo que concebera. Ao pousar no mesmo ponto de onde partiu,
deu prova definitiva que é possível impulsionar e dirigir uma
embarcação aérea, mesmo contra o vento, em condições de absoluta segurança. Estava concluída mais uma etapa da conquista dos ares, a Ciência da Navegação Aérea.
Aberto o caminho, faltava explorá-lo, e Santos Dumont lançou-se com
afinco à tarefa, construindo um balão após outro e realizando com eles,
toda sorte de experiências, as quais lhe permitiram desvendar,
gradualmente, os mistérios da navegação em veículos mais-leves-que-o-ar.
A cada novo balão que construía, Santos Dumont acrescentava
aperfeiçoamentos, cuja falta se fizeram sentir no modelo anterior e,
assim, os seus aparelhos iam se tornando cada vez mais funcionais e
seguros.
No ano de 1900, o milionário francês Henri Deustsch de la
Meurth, entusiasta e mecenas da aviação, lançou um desafio aos
construtores de dirigíveis: quem conseguisse partir do Campo de
Saint-Cloud, fazer a volta em torno da Torre Eiffel e retornar ao local
de partida, no prazo de trinta minutos, sem tocar ano solo, faria jus a um prêmio 125.000 francos.
Pilotando o seu mais recente balão, o “Nº 6”, Santos Dumont levantou
vôo do Campo de Saint- Cloud, a 19 de outubro de 1901, em disputa do
prêmio que recebeu o nome de seu idealizador: Deustsch.
Antes do fim do prazo estipulado estava de volta. Dos 125.000
francos, distribuiu 50.000 entre os seus mecânicos e auxiliares. A outra
parte, 75.000, foi entregue à polícia parisiense para ajudar os
necessitados; ao autor da façanha coube, apenas, a satisfação de ter
demonstrado, diante de uma assistência oficial, que o dirigível era um
veículo perfeitamente manejável e seguro. Ainda, por ocasião deste
feito, somou-se um outro prêmio, conferido a Santos Dumont pelo governo
do Brasil, constituído de uma medalha de ouro assinada pelo então
Presidente da República (1898-1902), Dr. Manoel Ferraz de Campos Sales
(1841-1913); acompanhada do prêmio, em espécie, de 100 contos de réis,
equivalente, na época, a 125.000 francos.
Depois do “Nº 6”, Santos Dumont construiu vários outros balões: o “Nº
7”. Projetado e construído exclusivamente para corridas, era uma
obra-prima de elegância: delgado, esguio, alcançava a velocidade de 80
km/h; entretanto, nunca chegou a competir, pois não apareceram
concorrentes com disposição e capacidade para enfrentá-lo.
O “Nº 8” não existiu, pois Santos Dumont era bastante supersticioso, e
evitava este número devido ao acidente ocorrido com o dirigível “Nº 5”,
no dia 8 de agosto (oitavo mês do ano); então, em decorrência disto,
saltou do 7 para o “Nº 9”.
O dirigível “Nº 9”, conferiu a Santos Dumont grande popularidade,
pois abandonou sua antiga regra de segurança, passando a transportar
pessoas de um lado para outro de Paris. Este gesto simpático, aliado à
sua acanhada compleição física (1,50 m de altura e 50 kg), tornou-o
carinhosamente conhecido como “Le Petit Santos”.
Para não ter de esvaziar os seus dirigíveis após cada vôo, em 1905
projetou e mandou construir um grande hangar, em Neuilly, Paris, que
foi, aliás, o primeiro do mundo, onde recolhia seus “charutos voadores”,
até a experiência seguinte, economizando tempo e dinheiro a ser gasto,
com hidrogênio, para inflá-lo novamente.
O sucesso alcançado pelo “Nº 9” no transporte de pessoas, levou-o a
projetar e construir um dirigível especialmente destinado para este fim.
Surgiu, assim, o “Nº 10”, maior que todos os anteriores e chamado pelo
próprio Santos Dumont de dirigível “Omnibus”. Seu invólucro tinha
capacidade vinte vezes maior que a do primeiro balão, o “Brasil”, mas a
potência de seu motor não ultrapassava 25 cavalos de força.
Já convicto da superioridade do veículo mais-pesado-que-o-ar sobre o
balão dirigível, assim como todos os aeronautas da época, Santos Dumont
passou a estudar a constituição física dos pássaros, o formato dos seus
corpos e os movimentos que as aves faziam durante o vôo.
O 14-BIS
Depois de empreender catorze projetos, alguns não tendo apresentado
os resultados esperados, além de passar dezenas de horas em vôo, Santos
Dumont concluiu que os aeróstatos – forma genérica que designava os
balões e os dirigíveis – eram lentos demais e, que para vencer a
resistência do ar e voar mais depressa, teria que criar um aparelho mais
pesado que o ar.
Então, Santos Dumont assim o fez: planejou, construiu o seu
“Mais-Pesado-Que-o-Ar” e iniciou uma série de testes, que incluíram
verificação de eficiência, comportamento no ar e estabilidade, feito por
intermédio de um cabo de aço esticado entre dois postes e, após içar
seu engenho, fê-lo deslizar sobre aquele, puxado por dois burrinhos.
Cauteloso e prudente que era, Santos Dumont não quis levantar vôo,
correndo riscos; entretanto, apesar de suas limitações, o balão ainda
era o meio de transporte aéreo mais seguro que existia, de modo que o
inventor aproveitou esta qualidade num aparelho misto, apenas para fins
experimentais. Consistia no conjunto composto pelo dirigível “Nº 14”, ao
qual foi atrelado o seu novo engenho, uma aeronave feita de bambu, com
ligas, interseções e cantoneiras de alumínio, revestimento de seda
japonesa e, com as seguintes medidas: 11,5 metros de envergadura (medida
das asas, tomada de uma ponta à outra), 10 metros de comprimento e 290
kg. Este conjunto foi denominado pelos amigos e pessoas que costumavam
assistir às experiências de Santos Dumont, de 14-Bis.
Mesmo tendo em mente o caráter provisório do conjunto, Santos Dumont o
manteve, pois enquanto o balão “Nº 14” erguia o aeroplano, evitava
acidentes e protegia de possíveis falhas durante a decolagem,
aterrissagem e o mantinha no ar, permitindo que fossem realizados os
testes de comportamento em vôo, sem riscos de queda.
Em julho de 1906, o aeroplano de Santos Dumont foi emancipado do
balão “Nº 14”, porém seu nome permaneceu: 14-Bis; ocorrendo após isto,
seus primeiros testes. Pouco depois, seu construtor o inscreveu para
disputar o Prêmio Archdeacom.
Ernest Archdeacom, aficionado da aviação, estabeleceu um prêmio, no
valor de 3.000 francos para o piloto que conseguisse voar 25 metros, com
um aparelho mais-pesado-que-o-ar. O Aeroclube da França acrescentou
mais 1.500 francos, como prêmio, para o piloto que conseguisse cobrir a
distância de 100 metros em vôo.
Ficou estabelecida a manhã do dia 23 de outubro de 1906, para a realização da prova do concurso.
Apenas Santos Dumont se apresentou, juntamente com o seu 14-Bis;
porém, como o aeroplano teve problemas de ordem mecânica em seu
trem-de-pouso, nos momentos que antecederam a prova; esta foi adiada
para a parte da tarde e, até lá, Santos Dumont empreendeu todos os seus
esforços nos reparos de seu avião, não parando nem mesmo para almoçar.
Chegada a tarde e, já tendo executado os ajustes necessários, Santos
Dumont e o 14-Bis, realizaram o feito. Grande multidão que se encontrava
no Campo de Bagatelle, assistiu à conquista do Prêmio Archdeacom,
quando o 14-Bis, depois de tomar embalo e percorrer, em vôo, 60 metros a
80 centímetros do solo.
Era a primeira vez, diante de uma comissão oficialmente constituída –
a Comissão Fiscalizadora do Aeroclube da França – que um aparelho
mais-pesado-que-o-ar se elevava do solo e tornava a descer, depois de
ter cumprir um percurso previamente determinado, sem recorrer a outros
meios, além de sua própria força motriz.
A imprensa mundial aclamou a vitória do brasileiro e, a partir de
então, Santos Dumont tornou-se tema de noticiários e comentários em toda
a Europa. Logo, porém, apareceram descrentes de sua façanha, alegando
ter sido, o vôo do 14-Bis, um “salto”. A estes, Alberto Santos Dumont
respondeu no mês seguinte, a 12 de novembro, ao conquistar, também, o
prêmio oferecido pelo Aeroclube da França e, desta vez, não deixou
margem para dúvidas: dos seus 24 cavalos de seu motorzinho, o 14-Bis
cruzou, novamente, no céu, a distância de 220 metros, erguendo-se à
altura de 6 metros. Inaugurando assim, de forma inequívoca e definitiva,
a Centenária Era da Aviação.
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